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Casal de moradores de rua se une na luta pela sobrevivência

  • Foto do escritor: midiadigitalufrn20
    midiadigitalufrn20
  • 26 de mai. de 2014
  • 3 min de leitura

Por Neiryvan Maciel Um burrinho, alguns poucos pertences e a vontade de ter o mínimo de dignidade nesta vida. É só o que resta a um casal de moradores de rua, que há oito meses se alojou sob o viaduto da Avenida das Fronteiras, na Zona Norte de Natal. O barulho diário do trem nem mais os incomoda. A vida sofrida contrasta com o sorriso de quem ainda tem esperança de um futuro melhor. Mas dói. Não deve ser fácil dormir ao relento, passar fome, frio, não ter privacidade nem o suficiente para não depender de ninguém. Luciano (33) e Angélica (41) estão juntos há pouco mais de dois meses. Se conheceram em um imóvel abandonado que servia de casa para várias pessoas em situação de miséria. Foi amor à primeira vista. Eles juntaram suas histórias, seus pesares e se uniram para enfrentar os desafios da vida a dois, apesar das dificuldades. Ambos têm bagagem. Luciano é pai de Kelly (13), que está grávida de um rapaz de 22 anos. Já Angélica tem três filhos: Janaína (21), Mateus (16) e Alexsandra (8). Com exceção da primeira, que já está casada e mora com o seu cônjuge, todos vivem com o pai. Na conversa que tivemos, notei que eles não estavam muito interessados em ter os filhos próximos a eles. Pelo contrário. Estavam conformados. Só que em condições normais de temperatura e pressão um pai ou uma mãe não se comportam assim, certo? A meu ver, a dupla não se achava em condições de cuidar dos filhos. Também não era pra menos. Naquela situação nem eles tinham certeza de que no dia seguinte estariam vivos. A escassez de quase tudo não era o único elemento que os mantinha juntos. As coincidências na vida de ambos começaram há muito tempo. A falta de estrutura familiar e o envolvimento com drogas comprometeram a trajetória de duas pessoas que podiam ter conquistado muita coisa. Com 12 anos de idade, Luciano cometeu seu primeiro delito: roubou o toca-fitas de um carro. Não deu outra: apanhou da polícia. Ao saber disso, seu pai o expulsou de casa. “E para o inferno ele foi pela primeira vez”… Após isso, furtos, brigas e dependência química. A vida foi se esvaindo aos poucos entre seus dedos. Impotente, ele nada pôde fazer. Perdeu família e amigos. Mas não estava só. Mil e umas garrafas de cachaça e maços de cigarros lhe faziam companhia e o ajudavam a se esquecer dos problemas. Angélica não queria estudar. Ao invés disso, subir o morro do loteamento onde morava e descê-lo em cima de uma tábua era mais legal. Só que as consequências do ato nem sempre passavam batidas. Sua mãe costumava esperá-la em casa com uma palmatória. Não tinha jeito… Era peia na certa! A certeza de apanhar era tanta que a menina buscava refúgio com o pai, a quem é grata até hoje. E a revolta foi só crescendo. Aos 10 anos, já cheirava cola de sapateiro. Depois veio a maconha e a cocaína. Matou e foi presa também, sobre o que se negou a dar mais detalhes. Por um momento tivemos de parar, respirar e observar o movimento dos carros que passavam ao lado. A emoção tomava conta de ambos, que se abraçavam e consolavam um ao outro. Foi então que percebi uma mancha arroxeada no olho da mulher. Eu nem ia comentar nada. “Ele me bate, é todo dia assim”. Acho que ela leu meus pensamentos. Eles já ensaiavam uma briga quando eu desviei o foco para um jumentinho, que parecia ignorar toda aquela proza. Presente de um pastor evangélico, ele custara R$ 40,00. O animal era o combustível que alimentava uma velha carroça, que servia para coletar material reciclável. Por mês, R$ 120,00 é o máximo que conseguem com a atividade. Dá pra acreditar? Pior foi saber que eles já foram roubados várias vezes. Levaram uma burra e a sua cria quando estavam na feira. Imagine ser privado do pouco que você tem. Nessas horas só a fé para socorrer. O casal, inclusive, confessou que há um mês frequentava uma igreja evangélica próxima ao local que residiam. Lá se sentem muito acolhidos. É pelo menos um fio de esperança em meio a tanta frustração nesta vida. Mas a gente sabe que só isso não é o bastante. Enquanto enxergarmos a pobreza e a desigualdade social apenas sob o ponto de vista numérico e quantitativo, mais Lucianos e Angélicas padecem Brasil a fora. A base familiar tem um papel importante na construção das próximas gerações. Se não consertarmos tudo, onde vamos parar?

 
 
 

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