Entre lixo e entulho, catadora sonha com dias melhores
- midiadigitalufrn20
- 28 de mai. de 2014
- 3 min de leitura
Por Neiryvan Maciel
Vou pedir licença pra contar a minha história. Ou melhor, a de Cileide da Costa Veloso (41), mulher que sobrevive do material reciclável que arrecada de porta em porta e vende a uma cooperativa de catadores, que funciona no que já o lixão da cidade, no bairro de Cidade Nova, Zona Oeste de Natal.
Engana-se quem pensa que que foi fácil chegar ao local. Imaginei que ao descer do ônibus no ponto mais próximo do destino pudesse encontrar alguém que soubesse explicar como chegar ao “antigo lixão”, ao “antigo aterro sanitário” ou às “cooperativas de catadores de material reciclável”. Que nada. As primeiras cinco pessoas a quem interpelei no início da jornada, usando essas palavras-chave, não souberam informar. Mas antes que eu desistisse de procurar, dei ouvidos ao meu instinto de orientação: deixe-me guiar por um bando de urubus que pairavam sobre algo mais ao norte. Pouco depois descobri que a comunidade conhecia o lugar como “forno do lixo”. Por que eu não pensei nisso?
Lá conheci Cileide, catadora que mora em um barraco no bairro Planalto com seus quatro filhos, Douglas (16), Jean (16), Jonatan (13) e João Paulo (10). Há treze anos trabalhando no local, e desde 2011 na Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis e Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Natal (Coocamar), ela não faz corpo mole quando o assunto é trabalho: “Acordo todo dia bem cedinho e às 7h já estou na rua. No fim do dia, marcamos um ponto de encontro e um dos carros da cooperativa vai nos pegar”.
Apesar do trabalho penoso e insalubre, já foi mais difícil. Ela lembra as dificuldades dos tempos de lixão e exalta a chegada das cooperativas: “Passei dez anos no meio de porcos, urubus, lama e muita sujeira, mas isso acabou. Aqui nós trabalhamos com luva, máscara, calça, bota e outros utensílios que impedem o nosso contato direto com o lixo. Agora ando toda limpinha, arrumada, pois aqui é tudo muito organizado”. Segundo ela, os trabalhadores também recebem uma cesta básica no fim de cada mês.
Mas as melhorias na sua vida não param aqui. No ano passado ela foi inscrita pela Coocamar em um curso de alfabetização na Casa dos Ofícios Cidade Nova, ligada à Secretaria Municipal do Trabalho e Assistência Social do município (SEMTAS), que oferece cursos de qualificação profissional de acordo com a demanda e as necessidades da comunidade. Lá ela está aprendendo a ler a escrever. Emocionada, ela desabafa: “O [meu filho] mais novo pede às vezes para vir aqui me ajudar no trabalho, mas não quero. Quero que, assim como eu, todos os meus filhos estudem para ser alguém na vida e realizem seus sonhos”.
A Cocamar e a Coopcicla são cooperativas que foram contratadas pela Prefeitura de Natal, em julho de 2011, para realizar a coleta seletiva e recolhem entre 7 e 8% dos resíduos produzidos na capital potiguar. Com os recursos obtidos, capacitaram e compraram equipamentos. A prefeitura paga R$ 157,00 por tonelada coletada e as cooperativas ainda ficam com o resultado da venda do material recolhido.
Atualmente, 60% da capital potiguar têm assistência de coleta seletiva da Coocamar, mas o objetivo é chegar aos 100% ainda em 2014: “Queremos expandir a coleta, principalmente na Zona Norte”, comenta Severino Júnior, presidente da cooperativa. Fazem parte da cobertura dos catadores de material os bairros Capim Macio, Quintas, Ponta Negra e Neópolis, nos conjuntos Jiqui e Pirangi.
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